Saturday, September 8, 2007

Traidora!

As amizades não duram para sempre, afinal de contas. Eu é que tinha essa fantasia se ter uma amiga com quem falaria e recordaria a vida, quando fosse velha e cheirasse mal. Porém, aprendi da pior forma que, de um momento para o outro, uma grande amizade pode acabar.

Já há vários dias que havia algo que me intrigava: as súbitas saídas da Sónia. Sim, ela estava a viver aqui em casa, por causa daquelas prostitutas que vivem em cima de mim, e por isso pude acompanhar melhor a sua rotina: acordar depois do meio-dia, comer, passar a tarde no MSN, sair à noite, voltar, dormir - geralmente, era isso. Porém, ela andava a sair demais para o meu gosto. Saía assim, a meio da manhã, ou da tarde, e o que dizia ela? Que ia ao médico. E quem é o médico dela? O meu tio Edison.

Como imaginam, era só eu fazer uma chamada e saberia se aquilo que me dizia era verdade. Pois imaginam mal, eu tive de ir de propósito a casa dele para obter informações. Cheguei lá, falámos, mas ele disse-me que só me diria alguma coisa se eu, em troca, lhe fizesse uma massagem - Ok, uma massagem, vinte minutos da minha vida a tocar nas suas costas, não era nada demais. Contudo, ele queria era que eu lhe massajasse os pés. Sim, os pés. Não me façam recordar essa experiência, por amor a Buda. Vou, por isso, passar essa parte à frente. O que interessa é o que ele me disse, depois da dita... massagem: "Não, ela já não vem a uma consulta desde Janeiro".

Por onde andaria Sónia? Foi com esse pensamento em mente que eu voltei então, ontem, para casa. Quando cheguei lá, ela estava já a sair do apartamento. Apenas me disse "Olha, vou ao médico! Volto mais logo...!". O que fiz eu? Esperei uns minutos e saí para a rua, para ir atrás dela.
Segui-a por cerca de meia-hora. Meu Buda, demos a volta à cidade, quase! Eu avançava, sempre escondida atrás de um poste, de um carro, de um arbusto, de um obeso. Contudo, quando vi o destino dela, não queria acreditar: a casa da Cátia.

Sim, fiquei revoltada, raivosa, mas controlei-me. Atrás de uma árvore, vi-a entrar em casa dela, a cumprimentar a Cátia, toda sorridente. "Vaca", pensei, e saltei a vedação da casa dela, ignorando a tabuleta que dizia, em letras gigantes, "Cuidado com o cão".

Olhei em volta e corri de arbustos em arbustos, a contornar a casa até encontrar a janela do quarto da Cátia. Estava aberta, porém, não se via nada dali debaixo! Tinha de me pôr num sítio com mais visibilidade. Foi então que olhei para o lado e vi uma árvore, enorme. Verifiquei que não estava ninguém ali e comecei a trepá-la, asiaticamente (é um método revolucionário de trepar coisas, digo-vos já).

Lá em cima, procurei camuflar-me entre os arbustos. Quando me consegui colocar numa posição segura e confortável, voltei-me, então, para a janela. O que vi, contudo, chocou-me tanto que quase caí lá abaixo: Cátia e Sónia estavam em cima da cama a beijar-se apaixonadamente. Meu Buda, a Cátia e a Sónia? A Sónia sabia perfeitamente que eu a odiava, não podia escolher outra para o seu primeiro relacionamento lésbico?!!! Raivosa, comecei a descer da árvore, quando olho para baixo e vejo um pequinuá (ou lá como se diz, sei é que é um cão pequeníssimo) a olhar para mim, os olhos cobertos de ódio. Sorri e tentei descer da árvore, contudo, a minha perna ficou presa em dois ramos e eu, desamparada, caí lá abaixo, o que provocou um enorme estrondo. A Cátia e a Sónia vieram imediatamente à janela e ficaram chocadas ao ver-me. A Sónia gritou, perguntando-me o que fazia ali. Que fiz eu? Levantei-me e disse "Sónia, como pudeste?! Sabias que eu a odiava, tinhas mesmo de namorar com ela? És mesmo vaca!! Odeio-te, odeio-te, o Clube das Bêbadas acaba aqui!!!" e pontapeei o canito, que me ladrava, contra a parede. Ele começou a sangrar mas mesmo assim conseguiu ter forças de me perseguir até à vedação, que voltei a saltar, enquanto corria... irritante, não?

A Sónia já veio buscar as suas coisas, apesar de contra vontade. Tentou persuadir-me a perdoá-la, mas sabem como eu sou. Para mim, ela morreu. Vaca. Não se preocupem, eu vou continuar, sozinha, a investigação. Rosália ainda continua desaparecida! Mas eu tenho um plano para logo à noite, depois conto-vos tudo. Beijo!!!

Tuesday, September 4, 2007

Rosália e as três prostitutas

"Tenho um plano" - assim me dissera Sónia quando vínhamos para casa a comer cachorros e a sujar as roupas de mostarda fora do prazo de validade. Já lhe havia contado o que se passara comigo nesse dia e ela, curiosa como é, já estava a querer ajudar-me. O seu plano? Eu emprestava-lhe um pijama e ela dormia lá em casa, comigo. Caso ouvíssemos alguma coisa e as minhas suspeitas se confirmassem, entraríamos em acção (não sei como, mas alinhei). Contudo, não percebi o porquê de comprarmos perucas numa loja dos 300 que ainda estava aberta.

Horas depois, estava eu a tirar fotografias com a web-cam para pôr no hi5 e a Sónia a brincar com o ConiPiçi, aguardando ouvir algo. Contudo, nessa noite, elas estiveram de folga.
No dia seguinte, Quinta-feira, eu cancelei o meu jantar com o Rui e as ambas voltávamos para casa, depois de ir buscar comida ao McDonald's, quando ouvimos a Rosália no andar de cima, no corredor, a gritar. "Vamos ver!", disse eu, e saltitámos pelas escadas até ao andar de cima. Encontrámos a minha vizinha Rosália a berrar com elas as três, que estavam na porta em mini-saia. Elas gritavam coisas em português do Brasil mas quem se sobressaía mais era mesmo a Rosália, dizendo-lhes que fossem fazer aquilo para outro lado. Quando nos viram a espiar, contudo, as três convidaram-na a entrar. Estranho, pensei eu e a Sónia também! E, por isso, ficámos ali mais uma hora sentadas nas escadas a comer hambúrgeres e a falar de maquilhagem, esperando a saída de Rosália. Mas ela não chegou a sair.

"Vamos chamar a polícia", disse Sónia, era já quase meia-noite. "Credo, achas?!", perguntei eu, "Não, vamos ficar aqui alapadas a fazer o quê? A tua vizinha está ali presa e nós aqui a falarmos de protectores solares...!" e eu aí tive uma ideia: as perucas. "Vamos", disse, e descemos até ao meu apartamento.

Contei a Sónia o meu plano: vestíamo-nos com as roupas do meu avô (foi um horror para encontrar calças sem qualquer vestígio de cocó) e, com as perucas, fingíamo-nos de clientes. Ela, como lésbica não assumida que é, aceitou logo e as subimos então até à porta do apartamento delas, onde batemos à porta.

"Quem é?!", perguntou sensualmente uma voz brasileira, sem abrir a porta. Devia ser a de langerie vermelha que eu vira anteriormente. "Somos nós", disse Sónia. "Nós queim?", perguntou ela. "Os clientes das... tres!", respondi eu, olhando para o relógio. "Clientis das treis? Má vócêis pensam qui isto é a cásá dá Txia Laurinda?", gritou ela, abrindo a porta. Outra veio por trás dela e disse "Deixa-os entrar, também é só uma hora não é?", ao que ambas acenámos. Minutos depois, estávamos sentadas no sofá da sala, rodeadas por três mulheres sem soutien a roçarem-se em nós, todas com um hálito a esperma.

Nunca me senti mais lésbica na vida. Estava lá, sentindo a língua delas descer o meu pescoço, tentando que elas não me tirassem a roupa. Já Sónia aproveitava para apalpar os seios descaídos que elas possuíam. Olhei em volta, à procura de Rosália. "Estamos sozinhuis", disse-me a que nos atendeu, e sentou-se no meu colo. Ao olhar para a cara dela, pude ver que ela reparou que algo estava errado em mim.

"Você é virgem?", perguntou ela, ao que Sónia sorriu e respondeu, com voz grossa "Não, ele está é só com vergonha... sabem como é... é a primeira vez dele a pagar..." e uma delas "Ai então temos de desinibi-lo!" e descarregou sobre mim uma garrafa de champanhe, deixando as minhas mamas salientes nas várias camisas que vesti. Tentei disfarçar o facto, mas elas saltaram logo para cima de mim, atirando-me para o chão. "Socorro!", berrei instintivamente, enquanto as três selvagens me desapertavam a camisa. Tentei desviá-las mas as suas investidas eram mais fortes. Enquanto que eu era sufocada por três pares de mamas, a Sónia limitava-se a olhar.

"SOCORRO!", gritei novamente, e Sónia levantou-se e disse "Bem, meninas, deixem-no lá...". Uma levantou-se para a satisfazer, contudo algo inesperado aconteceu: alguém começou a bater enfurecidamente na porta, gritando "Abram, é a Polícia!". Meu Deus, gelei. As três pareciam pálidas, a correr pela casa a esconder as peças de roupa deixadas pelo chão, pareciam baratas tontas. Eu e a Sónia entreolhámo-nos, assustadas. O que fomos fazer?! Podíamos ir presas. Não, eu não iria presa. Eu, Sílvia Monteiro, fugiria, qual descendente de ninjas que sou. Mas por onde?! Olhei para a casa-de-banho delas e corri para lá, seguida pela Sónia. Fechámos a porta à chave e ouvimos dois agentes da polícia entrar ali no apartamento.

"Que fazemos, que fazemos?!", dizia Sónia, olhando em volta. Eu fui até à janela que havia ali no compartimento e reparei que, mesmo em baixo (a uns dois metros) estava a minha varanda! Se fôssemos rápidas, talvez conseguíssemos fugir. "Rápido, Sílvia, eles estão a revistar a casa...!", disse-me ela, olhando pela fechadura. Eu abri a janela e disse-lhe que se chegasse perto de mim. Expliquei-lhe o meu plano mas ela disse "Não, Sílvia, estás tolinha? Ainda me aleijo!" E eu apenas disse: "Olha preferes aleijar-te ou passar uma noite na cadeia, com gente que nem a depilação faz?". Momentos depois, estava eu a olhar lá para baixo, tentando alcançar o cano ao lado da janela. Sónia estava já na varanda e dava-me indicações (ela lá tomou a iniciativa e foi primeiro). Eu então coloquei os pés no cano e comecei a descê-lo, lentamente. Porém, quando ouvi a porta da casa-de-banho abrir-se com um estouro, distraí-me e caí.

Caí, sobre a varanda, claro. "Anda!", disse-me Sónia, puxando-me para dentro de casa, enquanto que ouvia um sotaque brasileiro dizer "Estamuis sozinhais!".

Credo, que noite essa!! Nem dormi. Estava agarrada à Sónia, a chorar, a pensar o que seria uma noite na prisão ou nos horrores que se seguiriam se caísse lá abaixo enquanto descia. Nos dias seguintes, tudo esteve mais calmo. Contudo, nunca mais vi Rosália.